A humanidade viveu, nos últimos tempos, uma enorme confiança
em sua própria onipotência, celebrando os grandes feitos da ciência,
acreditando ter chegado ao seu máximo, não necessitando mais de nada nem de
ninguém. Nesse contexto parece faltar espaço para Deus. No entanto, o massacre
de inúmeros seres humanos, seja nos mais diversos conflitos armados, seja na
violência cotidiana em nossas cidades, seja pela fome, pela miséria e,
atualmente, pela Covid-19, nos levam a refletir como a nossa vida humana é frágil
e fugaz e submissa ao improviso que só a Deus pertence.
Como nos recorda o frei
Raniero Cantalamessa (pregador oficial do Papa na convenção se Shalorm), em sua
pregação na sexta-feira santa deste ano: “A
pandemia de coronavírus nos despertou bruscamente do perigo maior que sempre
correram os indivíduos e a humanidade, o do delírio de onipotência. [...]
Bastou um microscópico vírus, para nos recordar que somos mortais e
que o poderio da ciência, não basta para nos salvar”.
A Teologia (estudo de
Deus), nos ajuda a recordar que só Deus é absoluto, nos apresentando as razões
da esperança como se vê em (1Pd 3,15). Se isso é sempre importante em qualquer
tempo e lugar, nas atuais circunstâncias em que estamos, é urgente e
imprescindível.
Sim, a Teologia pode contribuir, como reflexão-práxis, para a
superação do que estamos vivendo, afligidos que estamos pelo coronavírus. E ela
o faz anunciando e realizando a sempre antiga e tão nova virtude: a esperança.
Eis a nossa missão atual: esperançar!
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Imagem: reprodução/ internet |
A ressurreição é o fundamento maior da esperança cristã. Isso foi bela e
profundamente colocado pelo Papa Francisco na sua homilia do Sábado Santo:
“Nesta noite, conquistamos um direito fundamental, que não nos será tirado: o direito à esperança. É uma esperança nova, viva, que vem de Deus. Não é mero otimismo, não é uma palmadinha nas costas nem um encorajamento de circunstância, com o aflorar dum sorriso. Não. É um dom do Céu, que não podíamos obter por nós mesmos.”
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Imagem: internet/reprodução. |
"Vai passar!” Repetimos nestas
semanas, agarrando-nos à beleza da nossa humanidade com palavras de
encorajamento que brotam dos nossos corações. Mas, à medida que os dias passam
e os medos crescem, até a esperança mais audaz pode desvanecer. Mas, esperança
de Jesus é diferente! Ela coloca no coração a certeza de que Deus sabe
transformar tudo em bem, pois até do túmulo fez sair a vida”.
Contudo, dessa vida em plenitude,
ainda não experimentamos a plenitude, mas, podemos perceber seus sinais pela
prática do amor. Aqui se evidencia a relação estreita entre esperança, fé e
caridade. São João nos diz que “se Deus nos amou assim, devemos, nós também
amarmos uns aos outros” (1Jo 4,11).
É pelo amor que nos assemelhamos à
realidade de Deus, pois é no amor que se é capaz de dar a vida para que outros
também a tenham. Em meio a tantas notícia tristes e diárias, vemos também,
pessoas que se desdobram nos hospitais e na ajuda aos mais necessitados nesse
momento são mais fortes do que a pandemia.
Pela fé, cremos em Deus e em tudo o que a Igreja proclama como revelado por Ele. Pela esperança, apostamos nossa felicidade
no reino dos céus e na vida eterna, confiantes nas promessas de Jesus
Cristo e sustentados com a graça do Espírito Santo.
Com o novo mandamento da caridade, amamos a Deus sobre todas as
coisas e, nesse amor, amamos ao próximo
como a nós mesmos. As três virtudes teologais e inseparáveis nos faz
conhecer a Deus e esperançar a sua glória compartilhando e diminuindo a dor dos
irmãos, na construção de seu Reino entre nós.
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Imagem: reprodução/ internet |
Movidos pela esperança, nós, os
seguidores do Cordeiro no amor, aqui habitamos a caminho do novo céu e da nova
terra. (Apocalipse 21,1). Certos do poder da ciência, da tecnologia, da
conservação da saúde física e mental, mas, principalmente convencidos que a
nossa passagem pelo mundo só tem sentido com um serviço total de caridade em
busca da justiça social, da paz, de alteridade, onde não apenas esperamos em
Deus, mas, esperamos com alegria o sonho real da vida plena que começa na nossa
vida e na de todos, em Jesus. Prossigamos com a nossa missão de esperançar em
Jesus.
Irmão Francisco Lucci
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